Bena Coelho – Analista Junguiana

Espaço para discussão da psicologia junguiana.

O EGO DEVE SER COMBATIDO?

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Quer estejamos no campo do “desenvolvimento pessoal”, da gestão, ou mesmo dos caminhos espirituais, a questão do ego parece central.
Muitas vezes apresentado como a fonte de todo mal, às vezes assimilado ao egocentrismo ou mesmo ao egoísmo, vamos tentar definir o que o ego representa no campo da psicologia profunda.
Tentaremos também, da forma mais simples possível, responder, pelo menos parcialmente, às principais questões sobre o assunto:
Ele é nosso inimigo? Se sim, como? E, sobretudo, temos que lutar contra o ego?

Por comodidade, e principalmente para ficar dentro das terminologias utilizadas por Jung, usaremos a palavra “Eu” para designar essa instância comumente chamada de “Ego”.

O Que é o Eu/Ego?

Propomos de aceitar desde o início o seguinte: a consciência é definida como a ferramenta a serviço do trabalhador, o Self.
Em Jung, e não entraremos em detalhes, a consciência estaria condicionada por um campo pré-existente, ele próprio proveniente de uma fonte original arcaica (o inconsciente, para dizer de maneira bem simples).
De acordo com as teorias atuais, o bebê (ou mesmo o feto) ao receber o “outro” (realidade externa se objetivada por seus sentidos, interna quando integrada à dinâmica do psiquismo), seu equilíbrio inicial é perturbado.

Tomemos a imagem do bloco de cera que ainda não foi utilizado ; é o estado psíquico inicial do bebê. A aparição do que chamamos de “outro” é comparável a um “dedo” que marcará a cera, deixando então uma marca… essas marcas na cera podem ser associadas à consciência emergente, a cera que permite fixar essas modificação seja o Eu.
A consciência é uma memória ativa que, dependendo das interações passadas, produzirá reação, avaliação e significado.
Em troca, a consciência “alimentará” o Eu para enriquecê-lo. Jung define o Ego como o centro da consciência, é até mesmo sua “matriz original”.

Qual é a utilidade do Eu/Ego?

« O ego é feito, em primeiro lugar, para sobreviver (suportar o choque do encontro inicial com o que é) e, em segundo lugar, para viver (manter-se o maior tempo possível).
Para isso, ele deve aprender a pegar.»
Pierre Willeket


O Ego/Eu é essencial para a sobrevivência psíquica e social do ser humano!
A vida psíquica se sustenta na equação de tensão entre o “eu” e o “outro”. A rendição de um dos protagonistas é a morte.
Não há necessidade de moralizar em torno da natureza do ego, muito menos condená-la, porque ela está inscrita na raiz dos nossos determinantes mais profundos.
Essa chamada luta contra o ego, que alguns pregam com fervor e ardor, não faz mais sentido do que querer lutar contra um dos membros do nosso corpo.
Preocupar-se com isso é inútil.

É imperativo estar lúcido e não contar fábulas sobre a chamada oblatividade inerente aos seres vivos e, partindo da espécie humana. Em sua essência, provavelmente não existe tal programa. A menos que ele procure e encontre nisso algo, como costuma acontecer, um maior benefício.

O esforço e o tempo despendido pelo ego para integrar o real, para representá-lo a si mesmo, não são – por ele – considerados como fortuitos.
Em outras palavras, ele precisa que esses investimentos sejam devidamente remunerados e, principalmente, pela estrita preservação de seus efeitos.

O Eu/Ego é Satisfatorio?

Obviamente não, pois enquanto o Ego era vital para o adulto em desenvolvimento, torna-se uma “força restritiva”, se não reconsiderada, no desenvolvimento da segunda metade da vida.
Uma de suas propensões é garantir que o que ele obteve “com o suor de seu rosto” possa ser mantido como está pelo maior tempo possível.

O Self age como um anti-revolucionário.
Não como um contra-revolucionário, para quem a revolução já teria ocorrido, mas como um anti-revolucionário: seu ponto de vista é mais preventivo (“sem mudança”) do que reativo (“nunca mais mude”).

Uma formidável tendência à imobilidade, ao endurecimento em torno do conhecido e uma enorme apreensão sobre o que pode ser adquirido, assombra nosso espírito.

“Antes, eu não teria podido fazê-lo: teria considerado uma afirmação presunçosa de mim mesmo. Na verdade, isso refletia a superioridade do ego ou da consciência, adquirida com a idade.” (Jung, correspondência)

O que significa, sem a menor ambiguidade possível, que é necessário construir esse eu, mas que em nenhum caso deve ser considerado como o “dono da casa” ou “o inimigo a ser destruído”.
É, sem dúvida, aconselhável estar sempre aberto à descoberta, ao desconhecido (desconhecido).
Nesta delicada e muitas vezes dolorosa missão de vida que recoloca o Eu no seu “lugar próprio” pode às vezes brotar o murmúrio interior de uma proposta louca… esse eu só existe em vista da « revelação » do « não-eu » que nos somos primeiro e antes de tudo.

Esse artigo foi publicado no «AUTORS DE CARLS – LE BLOG» 22/02/2022

https://carl-gustav-jung.blogspot.com/2020/02/faut-il-combattre-lego.html?fbclid=IwAR2oCcjzJGRc9aJcpSRx5gUt8KK1iCrjxXnvYVvzbJwpMeaAerNmy2lGSJo

Tradução : Bena Coelho

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